É
indiscutível o quanto a tecnologia agregou em nossas vidas e trouxe resultados
interessantes em todas as áreas do conhecimento e das relações humanas.
Não
precisamos ir muito longe: basta traçar um paralelo de trinta anos para cá e
perceberemos as diferenças! Na área da saúde com equipamentos e procedimentos
que permitem a identificação de doenças ainda no estágio inicial, facilitando o
caminho para a cura; na engenharia com máquinas (tanto a nível de uso pessoal
como automóveis quanto industriais), que otimizam processos, produzem com
eficiência e precisão quase que cirúrgicas; na educação com a interatividade
digital em salas de aulas, cursos online (muitos até gratuitos), e-mails,
enfim, uma infinidade de recursos à nossa disposição e acessível a quem queira.
Muito
se discute os benefícios e malefícios trazidos pela tecnologia. Em tudo o que
fazemos colocamos as nossas características, deixamos a nossas impressões e a
individualidade determina até onde podemos ir. Em nosso atual estágio evolutivo
ainda é muito latente aspectos psicológicos como medo, culpa, fuga, levando em
muitos momentos a transferência de responsabilidades para fora de nós,
projetando-a em situações, pessoas e até coisas.
Quando
discutimos, por exemplo, as questões sociais, é muito comum dizermos que “a
sociedade está perdida” ou “no meu tempo era...”, como se estivéssemos vivendo
numa outra dimensão ou buscando justificar que o que fazíamos “não era tão ruim
assim”. O mesmo se aplica ao uso das tecnologias: estamos colocando-a num patamar
distanciado ou considerando-as como um sujeito autômato, que tem vida própria e
o poder de determinar nossas escolhas e até mesmo nosso caráter.
Consideramo-nos corrompidos pelos cartões de crédito, internet, whatzap e
outras tantas formas de tecnologia que evidenciem aquilo que revelamos e que
está passivo a uma interpretação de terceiros. A própria definição etimológica[1] da palavra evidencia o seu
verdadeiro sentido: “ A palavra tecnologia aparece no século XVIII (1765) e
deriva do grego tékhne – “arte, indústria, habilidade” e de tekhnikós –
“relativo a uma arte”, e de logos – “argumento, discussão, razão” – logikós –
“relativo è reaciocícnio”, derivado de légo – “eu digo”. Ou seja, a tecnologia
em sua etimologia – em sua verdadeira acepção – é o conjunto de argumentos,
conhecimentos, razões em torno de uma arte, de um fazer determinado, cujo o
objetivo é satisfazer as necessidades humanas[2].
Evidente
notar que, como em tudo o que sofre a influência do comportamento humano, o que
dá sentido aquilo é o elemento humano, com seu caráter, experiências e
capacidades, determinando até onde pode-se chegar e os resultados a serem
obtidos com suas ações. Ao mesmo tempo que se torna perigoso é também
imprescindível para a evolução progresso da humanidade, a questão, de fato por
conta do livre arbítrio e maturidade emocional e espiritual do indivíduo, os
verdadeiros determinantes do fracasso ou sucesso de qualquer empreita.
Recorrendo
ao livro dos Espíritos, mais especificamente no livro III “Das Leis Morais”, no
seu capítulo V “ Lei de Liberdade”, as respostas às pertinentes perguntas do
codificador deixam muito claras o que determinam ou não as consequências do
comportamento humano, onde:
“843. O homem
tem livre-arbítrio nos seus atos?
— Pois
que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem
seria uma máquina”
Nessa afirmativa já distingue exatamente o que é ou não pertencente a
natureza humana.
“844. O
homem goza do livre-arbítrio desde o
nascimento?
— Ele
tem a liberdade de agir, desde que lenha a vontade de o fazer. Nas
primeiras fases da vida, a liberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda
de objeto com as faculdades. Estando os pensamentos da criança em relação
com as necessidades da sua idade, ela aplica o seu livre-arbítrio às coisas
que lhe são necessárias.”
Na medida em que avançamos e desenvolvemos nossa inteligência, é natural
que avancemos e alcancemos patamares cada vez maiores, movidos pelas
necessidades pessoais ou circunstanciais, e essas mesmas necessidades é que
determinam o uso que se faz em tudo o que está ao nosso alcance.
“845. As predisposições instintivas que o
homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício de seu livre-arbítrio?
— As predisposições instintivas são
as do Espírito antes da sua encarnação; conforme for ele mais ou menos
adiantado, elas podem impeli-lo a atos repreensíveis, no que ele será secundado
por Espíritos que simpatizem com essas disposições; mas não há
arrastamento irresistível, quando se tem a vontade de resistir.
Lembrai-vos de que querer é poder. (Ver item 361.)”
Vê-se nessa passagem que as predisposições (desejos, inclinações e
vontades) do espírito que determinam o aproveitamento daquilo que possui ou das
oportunidades de lhe surgem.
Vivemos um momento onde cada vez mais a transparência se faz presente, e
os feitos positivos ou negativos do uso da tecnologia apenas revelam os
caracteres daquele que a utiliza, como disse Jesus em Lucas 8:17 – “Porque não há nada oculto que não venha a
ser revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido a luz”. Mesmo
os aparentes efeitos negativos do uso das tecnologias podem ser vistos como
oportunidade de melhoria e ferramentas de autoconhecimento, ou seja, o
aproveitamento que fazemos dos bens e relacionamentos a nossa volta revela em
qual nível espiritual no encontramos entre erros e acertos, o uso que estamos
fazendo dos talentos[3]. Buscar o que de fato nos
motiva para dar o nível de importância a certos recursos e distinguir o que de
fato é significante para nossa evolução e aprendizado são caminho na construção
de uma personalidade mais “humanizada e humanizadora”, permitindo espaço ao que
de fato pode nos proporcionar um prazer legítimo, saudável e construtivo.
Wander S. Guerreiro
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