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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Deixai os mortos enterrar seus mortos

Ontem estive no velório da minha cunhada, Ivonete.
Sem dúvida uma pessoa que, ao longo de sua curta vida de 60 anos, conduziu seus caminhos com dignidade e respeito, sendo boa mãe e esposa, e com todas as suas dificuldades interiores, é digna de todo o respeito.
Como observador nato não pude deixar de reparar em tudo à minha volta, afinal, todas as circunstancias servem de aprendizado e merecem atenção. De outros velórios que presenciei, esse foi um dos poucos que verifiquei um respeito quase que generalizado, com algumas pessoas orando, meditando, ou simplesmente conversando em tom de respeito e cordialidade. 
Infelizmente a regra não foi uma geral...Existem aqueles que deixam escapar a maledicência, as posturas inconvenientes do tipo "morreu do quê???? me disseram que...", ou simplesmente falar pelos cotovelos sob pretexto de consolar algum familiar. Nunca na minha curtíssima vida uma frase fez tanto sentido: as vezes a melhor palavra é o silêncio, e foi o que fiz, e a minha paz foi indizível!!
E como foi interessante observar que a morte em si pode não trazer nenhuma ou quase nada em matéria de reflexão em alguns de nós, visto que, mesmo estando diante de uma cena tão dolorida (pelo sofrimento alheio e a saudade), ainda conservamos o melindre e as expectativas diante do comportamento de outrem: julgando, cobrando, exigindo, etc...
Quando penso em minhas emoções doentias, nas de meu próximo e ao lembrar da cena de minha cunhada no caixão perguntei a mim mesmo: quem de fato está vivo? quais são os sentimentos que cultivamos a nos impulsionar a viver? na minha ignorância, arrisco um palpite: se forem sentimentos que tragam paz, equilíbrio, alegria, consciência, prosperidade, enfim (independentemente das circunstâncias), digo que estes são sentimentos de VIDA, mesmo que estejamos a beira da morte física ou de algum tipo de dor, pois indicará que estamos "vivos na experiência", colocando-nos como sujeito ativo, consciente  e com uma visão além sobre a vida... Já ao contrário, quando todas as praticas acima não são vivenciadas, podemos dizer que estamos cultivando hábitos de MORTE, pois por traz de uma falsa aparência de sorrisos, conformação e sofrimento (que é bem diferente de dor), cultivamos sentimentos pequenos de julgamento, ódio, carência, arrogância, vaidade, entre outros, não significa que estamos vivendo a experiência, mas sim aproveitando da mesma para transferir a responsabilidade a outros o que não conseguimos fazer conosco mesmos, por não  temos coragem de encarar como sendo a nossa verdade e trabalhar em prol de nos modificarmos interiormente, trazendo consequência ainda mais amargas e muitas vezes piores até mesmo que o próprio fato gerador.
Ter defeitos não é o problema, o problema e querer viver sem eles sem modificá-los! Como conta a mitologia grega ao citar o mito de Sísifo, que por castigo da sua leviandade e esperteza é obrigado a empurrar uma pedra muitas vezes maior que seu próprio peso e, ao chegar ao topo, ela rola de volta ao início e ele é obrigado a retomar o processo, eternamente.
Depois dessa breve reflexão lembei de Jesus, que certa feita disse, ao ser informado de um velório: deixai aos mortos enterrar os seus mortos (E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe disse: Senhor, permite-me que vá eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus - Lucas, IX: 59-60), e questionei-me novamente a respeito das perguntas que eu mesmo me fiz:  que é vida, e que é morte? São as condições físicas e naturais do processo biológico de nascer ou morrer ou o que carregamos em nós?
Hoje vejo que não estou morto, mas também não muito vivo, e por enquanto sou um pequeno Zumbi, mas em processo de cura, a cada dia!!

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